O Justo foi criado por 6 sócios, cada um com uma especialidade e conhecimento de mercado particulares. Quando chegou perto do nosso primeiro inverno eu pensei que a gente tinha que vender algum tipo de sopa. Meu ramo é a propaganda e na minha cabeça imaginava as pessoas em casa vendo a foto da sopa e pensando “nossa, tudo que eu queria era tomar uma sopa quentinha no Justo nesse inverno”. O Yudi disse que as pessoas não saem de casa para tomar sopa. Eu insisti, vim um dia mais cedo e preparei sozinho um creme de batatas com bacon, já que ninguém resiste à bacon. Coloquei uns pães tostados do lado, fiz uma foto e joguei pro insta como prato relâmpago só para aquele dia. Aconteceram algumas interações que me deixaram esperançoso com o evento. Às 17h abre a casa e ninguém pede o creme. Deu movimento bom até para um dia super frio mas o primeiro prato só saiu no meio da noite. A gente vê todos os casos como uma coisa boa. É tudo aprendizado. Mas outras pessoas chamariam de fiasco. 

Acontece que não fez mais frio aquele mês e não se falou mais no assunto. Um mês depois volta a esfriar e começo a meter pilha no Yudi para fazer novamente. Agora com uma receita melhor, feita por ele que é professor de gastronomia na federal. Ele avisa que não vai vender bem mas decide fazer. Acho que a ideia era me mostrar uma lição pra vida. Uma lição que viria a se tornar um termo aqui no Justo. Já explico melhor. 

Dessa vez criamos um evento no Facebook. Foto profissional. Diversas postagens chamando. Deu um frio ótimo para uma comida quente mas não forte o suficiente para não se querer sair de casa. O creme estava lindo. O pessoal da produção já tinha repetido várias vezes na janta. Agora vai!… Não foi. Vendeu muito melhor que na primeira vez. Quem provou amou e alguns até repetiram. Mas nada que valesse todo o esforço. Quer dizer, valeu sim pois aprendemos, ou melhor, eu aprendi, pois o Yudi já sabia desde o início. O conhecimento de mercado dele tava certo. A minha intuição estava errada. 

Mas o que ficou? Por que estou contando essa história? Pois nela surgiu o termo: “situação creme de batata” onde a gente pode alertar uns aos outros quando alguém está prestes a insistir em algo que já tem maus precedentes. Ah, e também por que a receita tava realmente muito boa e a gente decidiu compartilhar ela pra tu fazer em casa. 🙂

Adelino Bilhalva.

Uma coisa que aprendemos e amadurecemos com o Justo é que cozinhar é um ato para o outro e não para si. Por isso que no Justo nós bolamos os pratos do jeito que vocês mais gostam, claro que com o nosso toque, mas a gente realmente ouve e dá o maior valor ao feedback de vocês. 

Quando a gente diz que a cozinha do Justo também é de vocês é porque realmente é, tudo o que fazemos é pra que no final de um dia corrido vocês cheguem aqui e possam comer, beber e se divertir. Tipo com aquela atmosfera de que foi feito pensando naquilo que vocês gostariam de encontrar mesmo, entendeu? Tem coisinhas diferentes? Tem e sempre vai ter, mas isso é pra quem gosta de se aventurar mais e a gente também respeita isso. Um lance que eu sempre ouço é: “Pô o Justo é o lugar mais foda da cidade.” Gente, o Justo só é massa porque vocês são massa e tão sempre interagindo e ajudando a construir esse baita capítulo na cidade.

Ricardo Yudi