Justo em Quarentena

Vamo manter fechados, mas calma o coração, explico. 

Estamos em diversos grupos fechados de empresários da gastronomia e de outros ramos e infelizmente a conscientização não é a tônica das discussões. O Brasil parece ser o único país do mundo onde os empresários clamam pela reabertura do comércio independente das recomendações da OMS e do achatamento da curva de contágio do COVID-19. Não fazemos parte desse coro. Fazemos parte do coro científico que diz que é necessário o distanciamento social e o aumento da capacidade do atendimento. Francamente, não acreditamos que toda a comunidade científica, a OMS e todos os governos do mundo estão errados e as correntes de zap propagadas por robôs é que estariam certas. 

Aos poucos vemos decretos e posicionamentos de diversas esferas do governo afrouxando as regras de distanciamento. Há pouco o ministério da Saúde, claramente cedendo à um jogo de interesses, determinou que cidades que tenham livres 50% dos leitos com respiradores poderiam aderir à um tipo de distanciamento vertical. Essa estratégia já deu errado em outros lugares e o caminho é claro: com o vertical o contágio aumentará e logo essas cidades perderão os seus 50% de leitos livres e voltarão ao distanciamento horizontal. Todos perdem. 

Estamos com as portas fechadas desde 21 de março quando a prefeitura permitiu somente as teles para o nosso ramo de atividade. Encerramos inclusive a tele. Desse dia em diante começamos a planejar diversos cenários. Todos eles bastante pessimistas. Nesse planejamento a prioridade sempre foi manter o máximo de empregos. Não demitimos ninguém e agora com o apoio governamental temos certeza que podemos ficar pelo menos mais 2 meses a partir de agora com as portas fechadas contribuindo para o achatamento da curva. Enquanto houver estado de calamidade pretendemos nos manter fechados mesmo que se afrouxem ainda mais as regras de distanciamento.

Mesmo que não houvesse ajuda do governo, continuaríamos planejando para ficar dois meses fechados e mantendo os funcionários. Esse cenário só era viável pois sempre trabalhamos com um provisionamento bastante sério e preparado para ficar um mês sem faturamento. Para isso a gente sempre esteve pronto. Não para o cenário atual. Mas entendemos que quase nenhuma outra empresa do segmento se preparou dessa forma e é aqui que vem uma das poucas dicas que podemos dar por hora: Se prepare. O mundo como conhecemos já deixou de existir. Nossos hábitos estão se transformando para sempre. Nosso modo de consumo nunca será o mesmo. O faturamento das empresas vai cair com certeza. Novos ramos vão surgir e coisas que antes não davam dinheiro podem se fortalecer no novo mundo. Então se prepare para o novo mundo. Pare de cobrar medidas do velho mundo como a volta do comércio enquanto estamos longe do pico do contágio. Comece a pensar e como a sua vida, ou a vida da sua empresa vai funcionar depois que isso passar. Do contrário, você vai ser pego de surpresa novamente como aconteceu agora. 

Sempre tentamos deixar bem claro que o Justo não é só um bar, mas um local que usa a gastronomia como ponto de partida para diversos projetos em diversas áreas humanas. Com esse propósito desenvolvemos projetos sociais internos e externos, promovemos cultura, política, artes, inclusão social e não é por causa da crise que isso vai parar. 

Primeiro vidas com dignidade, depois os negócios.